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A pandemia de Covid -19 e as crises de relacionamento - Psicanalista Clínico Marcus Barbosa

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Entrevistamos o psicanalista clínico e psicoterapeuta, Marcus Barbosa, atuante na área de psicanálise há mais de 20 anos e na área de psicoterapia há 13 anos , para falarmos sobre a relação das crises de relacionamentos com a pandemia de COVID-19. Boa leitura!


Por Hevelem Matos


Qual é a avaliação que o senhor faz sobre a forma como as pessoas tem relacionado no atual momento em que vivemos?


A qualidade dos relacionamentos há muito tempo já vinha ultra precária, esse contexto fático de pandemia apenas conferiu papel de relevo a essa condição líquida que as relações experimentavam, como afirmou Zygmunt Bauman


O senhor acha que a pandemia de COVID-19 contribuiu para criar crises de relacionamento?

 

Entendo que a COVID-19 contribuiu sim, em que sentido?! No sentido que ela maximizou os aspectos interativos fragilizados, fraturados de muitos relacionamentos que antes da COVID            estavam latentes e não manifestos ou se manifestos, toleráveis por conta da ausência corriqueira retirada pela necessidade de confinamento. A Medida em que essas ausências cotidianas, por conta do trabalho... e tudo mais foram retiradas por conta do confinamento da COVID-19 essas fragilidades do relacionamento vieram a lume, vieram a superfície com uma força muito grande.


A tecnologia e os novos meios de comunicação tem afetado as relações entre pais e filhos, casais e demais pessoas que convivem no mesmo ambiente?

 

Claro, essas novas tecnologias afetam sim porque afetam uma conexão comunitária familiar e a partir de duas premissas básicas: A primeira se relacionando com abuso e a falta de controle dos que utilizam dessas novas tecnologias e novas mídias que roubam o tempo necessário para solidificação e maturação dessas relações. Inclusive, o índice de viciados nessas novas mídias e tecnologias é crescente. Bom, a segunda premissa tem a ver com o fato de que essas novas mídias e tecnologias, se colocam como falsas substitutas das relações materiais experimentais fornecidas por esses relacionamentos. Note bem, as relações precisam ter tempo para se solidificar, se tornarem mais maduras e o vínculo exacerbado e o vínculo porque não dizer, até patológico dessas novas tecnologias e mídias acaba não dando esse tempo impositivo necessário para que os relacionamentos sejam maduros. Além disso, a segunda premissa tem a ver com essa questão dos substitutos e vou lhe dizer mais...Muita gente se refugia nas redes sociais, nos smartphones, nos ciberespaços ou seja, fogem realmente daqueles aspectos não tão bons, não tão agradáveis do relacionamento que existem em todos os relacionamentos mais que infelizmente por causa da imaturidade relacional alguns tentam fugir disso, acabam fugindo para essas novas tecnologias e novas mídias.


A partir de que momento é possível identificar que existe de fato uma crise no relacionamento?


Vou responder por via reversa, o que é um relacionamento saudável satisfatório? Bem, eu respondo que um relacionamento saudável e satisfatório é aquele onde se encontram certos predicados. Quais são? Intimidade, respeito, respeito a diferença do outro, companheirismo, interatividade e interatividade substantiva, não aquela apenas formal e superficial... Reciprocidade. O relacionamento que tem isso é um relacionamento saudável. O inverso então... o relacionamento onde esses elementos predicativos estão ausentes aponta inegavelmente para uma crise profunda.


Como eu posso me identificar como uma pessoa difícil de conviver?


Bem, a partir do momento que eu percebo uma real e indisfarçável, inabilidade de conviver com, de tolerância e da alteridade e de interação produtiva e afirmativa com os vários outros que constroem o meu contexto vivencial em sentido lato, de fato eu sou uma pessoa que tenho dificuldade de relacionamento. Quando as pessoas começam a claramente dizer e esse número é crescente que você tem dificuldades em tolerar a opinião alheia, de incorporar ao seu patrimônio críticas construtivas, que você quer impor a vontade sua aos demais, a medida em que esse tipo de acusação se torna generalizado, muitas pessoas acabam fazendo isso e que estabelece uma relação realmente de tensão e, essa tensão é sempre continua em vários extratos da sua existência, no trabalho, faculdade e tal, nós estamos falando realmente de uma pessoa de difícil trato.


Por que é tão difícil admitir que as vezes somos nós os culpados pela crise?

 

Porque tem a ver com os nossos processos subjetivos interinos de defesa do ego, negação, repressão, projeção, enfim. Nós na maior parte das vezes, não admitimos que nós somos protagonistas da crise por conta dessas defesas, porque eu nego que o outro está fazendo uma crítica pertinente, eu nego que tenho contribuído de modo substancial para o tensionamento do relacionamento, então essas questões relacionadas ao ego. Tem a causa do egocentrismo, da autoimagem. Uma autoimagem inflada, hipertrofiada pelo egocentrismo acaba interpretando qualquer parcela de adimissao de culpa na crise como uma exposição e ameaça a essa própria auto imagem ou a própria sobrevivência pessoal que é o nível patológico e hiperdimensionado.


O que fazer para ter melhor qualidade nos relacionamentos?


Primeiro, precisamos nos levar menos a sério. Segundo, precisamos lidar de maneira adequada com as nossas defesas do ego, lidar com isso, com o que o indivíduo está dizendo a cerca de mim “ele não tem razão” Será que essa reação minha não é de certa forma uma relação auto protetiva?

Admitir nossas fragilidades, limitações, erros, habilidade e contradições. Se conhecer mais e melhor a cada instante, de maneira continua e por último, compreender a importância do outro, tanto no outro íntimo (pai, mãe, esposo, esposa...) como os que estão além da linha da intimidade mas não da interação (colega de trabalho, colega de faculdade) pessoas que acabam também sendo componente na engrenagem da minha vida, de fato, eu preciso entender a importância deles. Quando eu faço isso, eu acabo me condicionando a tentar melhores meus relacionamentos.



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